domingo, 28 de setembro de 2014

Cultura pop


A terapeuta pede que eu faça uma colagem de recortes de revista representando a mulher que quero ser. Algo assim. Não consigo reter precisamente a proposta, porque não gosto dessas coisas e aceito meio que com preguiça.

Fico duas semanas enrolando para procurar as imagens, e nesse ínterim só penso que eu queria ser a Rita Lobo. Preciso rir de mim mesma, mas fazer o quê?... Penso naquela mulher linda, naquela desenvoltura, naquela casa fantástica, naquelas comidas sorrindo para as fotos, naquela louça que rescende a Oriente, bem ao lado de uma linda estante de livros impecavelmente organizada. Sou vulnerável ao personagem, impossível negar.

E minha filha também, ao que parece. Pede pra ver o programa repetidamente (coisas da televisão moderna: a gente pode ver o programa mil vezes...), decora frases, quer imitar o cabelo! Daí que um dia, enquanto ela assistia a um dos episódios e eu preparava o jantar, um trechinho de música de fundo daquela cozinha mágica me fisgou, achei linda e, influenciada pela receita de ares marroquinos que a mulher preparava, achei até que a canção tinha toques das Arábias.

No dia seguinte, lanço para o marido (que, diga-se de passagem, implica com os cuidados e caprichos da cozinheira invejada):

– Tocou uma música tão linda no programa da Rita Lobo – vê se você conhece e me ajuda a achar na internet? – e já vou colocando o programa pra rodar e ele ouvir o trecho. Enquanto ouço a música com atenção, num volume mais alto, vou percebendo uma vaga familiaridade: – Ué... mas é o Caetano? Que música linda essa do Caetano...

Marido quieto. Marido lança, com algum desprezo na voz:

– Coloca “Jokerman” no Google. Isso é um clássico do Bob Dylan.

– Ahhh...

Procuro a música, ouço o Caetano, ouço o Dylan, saltito aqui e ali descobrindo a história da canção, de Dylan e do álbum, leio opiniões engraçadas de gente que escreve blogs para discutir suas interpretações de canções, poemas e afins. E mando minha opinião abalizada:

– Amor, gostei mais da do Caetano.

Desta vez, nenhuma resposta, e um olhar de desprezo um pouco mais profundo.

*****

Ainda não sei muito sobre a mulher que quero ser, mas quanto à mulher que eu sou, parece que o forte dela não é mesmo cultura pop.

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Me consolo com a história de um amigo que só depois de casado foi “descobrir”, pela mulher, que o Jimi Hendrix era negro.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Noite


Às sextas-feiras, é particularmente difícil.
Normalmente não é fácil, mas às sextas-feiras é particularmente difícil.
Hoje foi terrível.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Resenha


Ela escreveu o livro que eu queria escrever. Não pela temática, que pode parecer óbvio. Pelo ritmo. Nunca imaginei que o livro que eu queria escrever tinha aquele ritmo.