quarta-feira, 27 de julho de 2016

Desde que o samba é bamba


Ando envolvida com um trabalho novo que tenho adorado, uma tradução para legendagem de vídeo.  É difícil, para mim, pois não tem roteiro escrito, somente o áudio, e eu sempre fui “ruim de ouvido”, tanto para música como para idiomas. De modo que agora toda vez que entro no carro para ir sozinha a algum lugar, já ligo o áudio, na esperança de deixá-lo impregnar meus ouvidos e conseguir fazer o trabalho direito. E está sendo uma experiência muito interessante, pois a cada audição eu entendo algo que não havia entendido na vez anterior, e fico toda feliz, feito criança que aprendeu coisa nova.

Só topei esse trabalho porque é um projeto querido, pois eu sabia que ia ser muito desafiador. Mas está sendo uma roubada deliciosa.

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Depois do jantar, enquanto ajeito as coisas, vou cantarolando.

“A tristeza é senhora
Desde que o samba é samba...”

A menina desenha. E ouve, percebo. Então aproveito o laptop aberto na cozinha e coloco o sambinha no YouTube. Ela reage: “Ah, mas eu queria ouvir uma menina cantando...” Ok, internet tem tudo.

Quando a voz feminina surge, seu rosto se ilumina.

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Passei toda uma vida, inúmeras chuveiradas, incontáveis lavagens de louça e sabe lá deus quantas rodinhas de samba e violão cantando, toda feliz:

“Solidão apavora
Tudo demorando em seu tamborim”

Choque: a voz feminina vem me esclarecer que nunca houve nenhum tamborim ali.

E eu que achava o tamborim tão poético...

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Pelo menos, parece que os ouvidos andam atentos por aqui.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Mel e canela


- Tá cor de mel e canela.

Levo um tempo para entender que, enquanto eu olho placas, carros e semáforos, ela vê o horizonte.

- O céu, filha?

- É. Quando o Sol se põe o céu fica cor de mel e canela. Quando ele nasce e quando se põe.

Perplexos, meus olhos marejam.