segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Transmutação

 

Era uma vez uma mulher que gostava de olhar as copas das árvores balançando, deitada no chão. As copas das árvores não se tocam, elas balançam num movimento coordenado como se cada uma soubesse onde a outra começa e para onde ela vai. Seus contornos se encaixam, como os continentes em deriva, mas elas não avançam umas sobre as outras nem sob o vento tempestuoso.

Era uma vez uma mulher hipnotizada pelo movimento das copas da árvores sob um vento que não existe aqui, só lá em cima. A grama rasteira não sabe o vento que enlouquece as copas das árvores e sua última folha mais alta mais alta mais alta, que balança mais que todas e quer subir aos céus mas não se rompe porque ela é folha mas também é árvore.

Era uma vez uma mulher deitada no chão, sobre a grama, querendo ser árvore.


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