terça-feira, 3 de junho de 2014

Culpa de quem?


Como eu sou uma moça de classe média, tenho indignações típicas de classe média. E, como é de conhecimento geral, a classe média sofre que se estrebucha.

Por exemplo, durante o Grande Calor Escaldante de 2014, como ficou conhecido aqui em casa o evento climático que me enlouqueceu em janeiro e fevereiro deste belo ano, eu queria desesperadamente alguém para culpar - afinal eu sou uma cidadã de bem, cumpridora dos meus deveres, com impostos e crediário em dia, então como assim eu ia passar aquele incomensurável aborrecimento sem processar ninguém? Sem pedir nenhuma indenização? Xingar nenhum político? Nem um vizinho? Nadinha?... Bem, elegi o shopping como meu quintal com ar-condicionado e para lá ia todas as noites, reclamar que nem o ar-condicionado do shopping estava dando conta... Alguém tem que dar um jeito nisso, ora essa!

Agora, imagina que a pessoa aqui ganhou uma linda cafeteira e resolveu fazer um "cantinho do café" na sua mesa de trabalho. Mesa de trabalho e de todo o resto: desenhar com giz de cera (na mesa mesmo, não no papel sobre a mesa, certo?), espalhar todas as cápsulas de café e guardá-las novamente (12 vezes), assistir a incontáveis vídeos do "passarinho, que som é esse?" no YouTube, e por aí vai. Então. A latinha com açúcar é meticulosamente guardada no alto todas as vezes. Todas as vezes. Menos quando a pequerrucha senta sozinha pedindo pra ver o dito passarinho e a mãe agilmente liga o play e corre para a cozinha a fim de aproveitar os momentos de quietude - de repente, muita quietude - e fazer o jantar...

Imaginaram a criança e todo o seu entorno empanados em açúcar? O tapete? A cadeira estofada? Mascavo, gente...

Deve ser culpa de alguém. Do passarinho, talvez. Minha que não é...