sexta-feira, 2 de junho de 2017

Rotinas, roteiros, percursos


Eu não tenho provas, mas tenho convicção de que a máxima "criança precisa de rotina" é falaciosa. Ou, pelo menos, ela precisa ser relativizada e tratada de uma maneira mais complexa do que habitualmente se encontra nos guias e dicas sobre educar crianças.

Acredito que as crianças – assim como nós, aliás, em alguma medida – precisam de pontos de referência, precisam de relações humanas quentes, precisam de tempo e liberdade para contemplar o mundo e a si mesmas e se espantar com a imensidão. Precisam que a vida seja recheada de sentido, e não ter sua existência tragada por esse vazio árido que nos ronda.

E nada me convence de que isso se traduz em dormir e acordar no mesmo horário, nem em fazer todas as refeições com cinco cores no prato. É que isso é mais fácil de prescrever. Não é a rotina que garante isso, é alguma coisa bem mais difícil de operacionalizar, são as relações verdadeiras com o mundo, com os outros seres humanos, consigo mesma. Talvez o que rotina faça seja garantir alguma segurança diante da ausência ou da precariedade de todo o resto.

Claro que eu posso estar completamente errada.