segunda-feira, 6 de maio de 2019

Universidade


Meu primeiro dia de aula na universidade, de manhã, naquela sala maior do prédio da Letras, que na minha lembrança parece um imenso auditório.

(Nos últimos anos do curso, à noite, ela não era suficientemente grande para acomodar as carteiras de todos os matriculados, e assistíamos às aulas em cadeiras que se amontoavam a ponto de não ser possível fechar as portas, ou então sentados no chão mesmo. Veio a greve de 2002.)

Pequena e sozinha, dedicada e leviana, pego o papel com o programa e a bibliografia do curso e leio logo no alto: “Aristóteles”. Foi tamanho o meu susto que levei algum tempo para compreender. Aquele da Grécia Antiga?... Apesar da reputação de inteligente e CDF da qual eu gozava entre amigos, inimigos e parentes, a adolescente do interior que se aventurava ali entre os grandes nunca havia pensado que realmente se lesse, mesmo, Aristóteles. Talvez um resumo em algum manual de Filosofia, mas não ler, ler mesmo. Muito menos eu mesma! Aristóteles.

Para mim, entrar na universidade foi desse tamanho.

Um atordoamento.

Claro que eu não sabia na época.

Levei sete anos para concluir aquela disciplina e me formar. Foi a última que eu cumpri: a disciplina introdutória do curso.

Desde menina eu achava que a universidade era o meu lugar, que ali eu estaria imersa no que mais admirava, que ali estaria em um lugar confortável. O grego me assustou tanto que eu precisei ficar dezessete anos lá dentro até passar o susto, me acostumar, e finalmente me aborrecer um pouco com tudo aquilo e tentar a vida lá fora.

Pouco tempo atrás, o emprego nunca planejado me fez voltar ali em busca do meu diploma. Aquele lugar onde vivi por mais tempo do que vivi em qualquer outra parte do mundo. Aquele papel desprezado no armário por anos. Chorei, encontrando a menina que chegou ali mais tonta do que uma borboleta, agradecendo a meus pais por me proporcionarem aquilo tão grande que me tirou o chão, comovida em observar a distância entre mim e a menina que lia Saussure no xerox debaixo das árvores.

Eu tive uma longa adolescência. E precisei da universidade para vivê-la e superá-la.

(Ali se pensa, se aprende profissão, se faz pesquisa, se aprende política, se descobre remédio, se inventa máquina, se observam as estrelas. E se vive. E a gente se faz grande.)