quarta-feira, 8 de maio de 2013

Porque é preciso rir do nosso próprio mau humor...


Recebo no sábado o e-mail de uma amiga: "Lembrei de você ouvindo essa música". Ah, que fofa! Clico no linkhttp://www.youtube.com/watch?v=RkzwNOTkGOs.
Conheço a música, inclusive gosto, mas confesso que nunca tinha prestado atenção na letra. Então presto.
...
Nossa, mas caiu como uma luva!
Gargalhadas, claro! Porque, afinal, quando você anda uma mala precisa pelo menos saber rir de si mesma. Senão fica uma mala, oras!

Então dá licença, que reclamar da vida também é poesia.


Nuvem negra
(Djavan)

Não adianta me ver sorrir
Espelho meu
Meu riso é seu
Eu estou ilhada
Hoje não ligo a TV
Nem mesmo pra ver o Jô
Não vou sair
Se ligarem não estou
À manhã que vem
Nem bom-dia eu vou dar
Se chegar alguém
A me pedir um favor
Eu não sei
Tá difícil ser eu
Sem reclamar de tudo
Passa nuvem negra
Larga o dia
E vê se leva o mal
Que me arrasou
Pra que não faça sofrer mais ninguém
Esse amor que é raro
E é preciso
Pra nos levantar
Me derrubou
Não sabe parar de crescer
E doer

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Claro escuro


Quando eu era criança, achava muito chique ter nome de música de Chico Buarque: eu estava fadada a ser inteligente, claro! A história é que meus pais estavam se aprontando para sair, minha mãe grávida, ouvindo o disco, e decidiram: se for menina, vai chamar Carolina; aí chegou meu futuro padrinho e lançou: estava pensando que se for menina podia chamar Carolina. Vixe: inteligente e conectada com o universo!

Mas minha mãe também contava que queria Januária. E eu achava que tinha me livrado de uma boa - Januária! De onde ela tinha tirado isso?! Depois fui descobrir que era outra moça de Chico, e comecei a suspeitar que uma bem melhor, na verdade: em vez de ficar na janela com seus olhos tristes vendo a vida passar, ela se penteava na janela, atraindo e enfeitiçando todo mundo com seus encantos - até o sol e o mar! Hoje acho que seria bem charmoso ser Janu... Mas o fato é que sempre me senti meio Carolina mesmo: olhos tristes, e um agudo sentido de que a vida passa, desde criança. Decididamente, eu vejo o copo meio vazio. Sempre quis ser mais ensolarada. Melancolia congênita?

Mas agora andei pensando que Januária também não sai da janela. Então qual a graça? Carolina admira a vida, e a vida admira Januária. Nenhuma delas vive.

Eu gosto mesmo das mulheres de Nancy Myers, rsss... É, nada de cinema de arte, na verdade não sou tão inteligente como previam os astros: a-do-ro Alguém tem que ceder e Simplesmente complicado. Aquelas mulheres lindas do jeito certo, quase aos sessenta anos, donas de suas vidas, em suas casas deslumbrantes - ah, aquelas casas! Claro, existe a insegurança por não ter mais a aparência da juventude, e os casamentos se desfizeram, e os filhos cresceram, e elas estão sós em casa. Não, na verdade, não. Porque elas têm projetos, veem pessoas, produzem suas obras - sejam histórias ou croissants. Mas principalmente porque nada terminou, a vida está em curso. E por isso há conflitos, inseguranças, dilemas. E elas saem melhores do que entraram. Não porque o sofrimento seja formador. Odeio essa história do sofrimento formador. Mas porque o fluxo da vida faz com que olhem para si mesmas, e se descubram, e se façam. Adoro quando o terapeuta olha para Jane e diz: "Vá em frente, isso não pode mais te machucar". Bom, talvez possa, mas ela já conhece o caminho da superação, sabe que ele é possível.

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Ah, então este é um texto otimista? Sei não... No final das contas, ainda não aprendi a ver o meu copo cheio...