terça-feira, 24 de setembro de 2019

Psicodelia brasileira


Acho que a última vez que eu tinha ido ao cinema ver um filme que não era voltado ao público infantil foi em 2012, quando minha primeira filha ainda era bebê. On the road. É isso: a vida engole a gente.

Por alguma razão, decidi dar um jeito de ver Bacurau no cinema. Procurei minuciosamente o ponto da minha agenda onde dava pra encaixar, abri o guia de cinema e selecionei o local e horário que possibilitavam a logística. Cinema de shopping center, um chique.

Só quando cheguei lá me dei conta de que era na sala VIP do complexo. Não desisti porque, veja bem, desde 2012.

Assisti Bacurau instalada em uma macia poltrona reclinável da sala VIP de um shopping chique no meio dos Jardins, ao lado unicamente de um casal: um senhor e uma senhora devidamente reclinados ao longo de todo o filme.

Terminada a sessão, saí da sala atordoada. Mesmo. Atônita, com a respiração descontrolada, fiquei dando voltas pelo shopping e olhando aquelas pessoas que não podiam ser reais. Nem eu. Eu andava, chorava e ria ao mesmo tempo, em meio àquelas vitrines absurdas fluidas brilhantes e aquelas pessoas improváveis sorridentes muito luminosas.

Escrevendo mensagens no celular para duas amigas, porque eu precisava de alguma ancoragem no real.

Uma delas, a pessoa mais gentil que eu conheço, disse que fiquei assim porque tenho uma grande capacidade ser impactada pela arte.

Mas não era isso.

É que eu sou a motoqueira.