quarta-feira, 24 de março de 2021

Cores


Dentre as coisas que a quarentena me trouxe, uma dor persistente no pescoço, a vontade de pintar como se eu soubesse fazê-lo, e um punhado de fios brancos pela cabeça, que parecem tanto mais numerosos quanto mais os examino no espelho.


Recentemente notei: os fios não ficam brancos. Ocorre que ganhamos novos fios, brancos desde sempre. Deduzo isso do fato de que alguns deles são curtos, às vezes curtíssimos. Fios tão pequenos como aqueles que ganhamos em algum momento da adolescência quando odiamos nossos cabelos, ou como aqueles que nos vêm após o nascimento dos filhos e quase não notamos, ocupadas com o bebê que nos olha.


Eles são espetados, não se alinham aos demais. Como poderiam?


E eu que queria imitar a moça do filme, de chanel vermelho, agora hesito diante da possível tintura. E se com ela eu acabar perdendo todo o espetáculo?