domingo, 7 de dezembro de 2014

De olhos abertos


Eu não sou uma pessoa mística. Mas Teresa nasceu exatamente como eu imaginava: parecia que a menina tinha mandado seu anjo da anunciação carregando retrato. Cabelos escuros, olhos grandes e abertos. Muito abertos. E firmes. Nunca teve olhos de recém-nascido: já veio encarando o mundo de frente. (Vai ver conhecia o poema.)

Também nasceu de unhas compridas, a pele descamando. Uma enfermeira disse à minha mãe que era porque passou do tempo. Ela não passou de nada. Nada lhe passa.

Ficou sentada, ninguém sabe por quê. A despeito da yoga, a despeito da acupuntura, a despeito da tentativa de versão cefálica. Foi até o meio e voltou. Ficou sentada. Decidiu que eu teria de me haver com aquilo. (Não tinha eu também ficado sentada? Então...)

Não bastasse a posição pélvica, ela soube reivindicar o tempo que lhe era de direito. Às 39 semanas, rompi com a obstetra que me acompanhara e que decidiu, na terça-feira, que quinta era um dia conveniente para a cesárea. Em duas semanas, falei com mais médicos do que falara nos últimos dois anos. Às 41 semanas ela veio para o meu colo. Sem trabalho de parto. Na cesárea não planejada, desplanejada, replanejada.

Parece que a menina que me olha nos olhos e diz o que quer tem seus próprios planos.