quinta-feira, 14 de julho de 2022

Púrpura


Quando li O Sol é para todos, quis tanto conversar sobre ele, mas ninguém me deu bola. Fui então puxando os fios dessa solidão e acabei chegando a um clube de leitura, de mulheres, que leem livros escritos por mulheres. Mulheres lendo mulheres. Não talvez porque as mulheres sejam especialmente isso ou especificamente aquilo, mas porque já temos muito dos homens em nós, e ouvir as vozes femininas pode ajudar a nos ver melhor.

Encerramos o semestre lendo A cor púrpura. Um livro sobre Deus, e um livro sobre mulheres. Um livro sobre Deus no qual ele se transmuta em minha irmã. E some. E volta. É o campo. É um de nós.

O fim, mesmo bonito, me é melancólico, como muitas vezes o são os finais dos livros que contam longas histórias de vida. Como me despedir de toda essa gente, depois de tantos anos de convivência? Além disso, olhar para a história de toda uma vida obriga a relativizar tanto. O trauma é uma foto. (Dá bons contos, talvez?) Se só olhamos para ela, só ele existe. Mas se abrimos o enquadramento, se deixamos a fita correr, ele um pouco se dissolve, viver é movimento.

Por isso não morremos. Aquelas que não morremos.

Quem não morre penteia. Celie está sempre penteando cuidadosamente às mulheres, às crianças. As crianças prosperam, Shug não morre, Sofia se levanta. Cuidar da vida com diligência. Leio no Instagram de Debora Diniz que o cuidado é revolucionário. Não sei se entendo nada disso.

Um livro sobre mulheres no qual uma mulher oferece um espelho para que outra possa, pela primeira vez, se ver.

Um jeito bonito de encerrar o semestre.