domingo, 26 de novembro de 2017

Realismo fantástico


“De cuando en cuando me ocurre vomitar un conejito.
No es razón para no vivir en cualquier casa,
no es razón para que uno tenga que avergonzarse y estar aislado y andar callándose.”
(Cortázar)


No dia em que sua irmã nasceu, minha filha cresceu espantosamente, de um dia para o outro.

Não me entenda mal, não falo em termos metafóricos. Não estou dizendo que ela se tornou mais sábia ou mais madura. Ela ficou maior. Cresceu vinte centímetros de um dia para o outro. Suas mãos ficaram enormes, a ponto de segurar toda uma cabeça de bebê. Suas unhas, que eu cortara alguns dias antes, ocupam o dobro do espaço em cada dedo. Seu rosto mudou, para acompanhar o crescimento do corpo. As pernas estão longas e fortes. Os braços ganharam uma nova robustez. As roupas não servem mais. Bastou um dia.

Eu costumava carregá-la no colo quando chegávamos da rua cansadas, mesmo com cinco anos de idade. Com a gestação, quase foi ela a me carregar, eu sempre a mais cansada da dupla. Combinamos que a seguraria no colo sempre que ela quisesse, desde que eu estivesse sentada. Não imaginava que ao fim de nove meses ela estaria imensa como o futuro, que não seria mais a menininha no meu colo.

Da primeira vez, entendi que a gente não se despede o suficiente de si mesmo antes da chegada do filho. É preciso despedir-se, entendemos somente depois.

Mais uma vez, entendi somente depois.