segunda-feira, 12 de agosto de 2013

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Eu sinto saudade de casa.

Gosto do seu cheiro e da densidade do ar, que nunca são iguais em qualquer outra parte do mundo.

Gosto do meu chuveiro, quente e farto, e de saber já de cor em que ponto a torneira deve ficar para a água sair temperada como eu gosto. Sem testes.

Gosto da minha cama, especialmente agora que arranjamos um colchão grande, onde cabem todos os meus braços, pernas e uma eventual criança de um ano e meio metendo o cotovelinho nas minhas costelas.

Gosto da luz da minha casa. O sol não penetra meu apartamento como eu gostaria. Mas tenho lâmpadas aconchegantes que aveludam as paredes e arredondam os móveis. (Porque as pessoas enlouqueceram e colocam lâmpadas eletrônicas brancas em todo lugar, deixando tudo com cara de hospital ou açougue.)

Gosto da minha comida. Dos meus legumes bem temperados, que não são acompanhamento nem dieta, e que minha filha se diverte pegando com os dedinhos de pinça.

Gosto do cheiro do meu café, de apertar o botão da cafeteira e esperar o barulhinho da água borbulhando e dizendo que o dia começou. E de tomá-lo no balcão da cozinha, dividindo com o marido uma fatia de pão quente de torradeira e manteiga feita em casa.

Gosto de forrar o tapete da sala com edredons e almofadas, depois do jantar, e ficar brincando na meia-luz com minha filha, até que ela se aconchegue a uma almofadinha e durma. É, minha filha de um ano e meio adormece quase todas as noites no chão da sala, com a TV ligada. Shame on me...

Enfim posso sentir meu corpo relaxar e minha cabeça voltar ao lugar. E quem sabe mandamos essa gripe de férias pro inferno.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Amamentação prolongada e língua comprida


Família viajando de carro pelo interior do Brasil. Posto de gasolina indo do Maranhão para o Piauí, sol de rachar o coco, poeira seca suspensa no ar. Enquanto aguardo o PF vir da cozinha, Teresa que não é boba nem nada quer mamar. Sento estrategicamente ao lado da garrafa d’água suando, que eu também não sou boba nem nada...

Chega um casal de moto. A mulher passa por mim, e lança:
– Que neném grande, né?
– É... – e com um sorrisinho amarelo fico me perguntando “grande” com base em quê...
– E mama, né?
– Ahã... – e mais um sorrisinho amarelo pensativo: “Ah, entendi com base em quê...”.

A mulher entra pra lá. Passa voltando pra moto:
– Ela é grande, né, tem quantos aninhos?
– Um e meio.
– E ainda mama?! A minha neném eu tirei do peito com um aninho!
– É mesmo, sua bruxa? Coitada da sua filha!

Mentirinha... Só mais um sorriso amarelo, e outro ahã. Eu nem penso assim, de verdade. Cada mulher sabe de si, amamentar é um ato íntimo: que bom se cada uma puder decidir de maneira livre e consciente sobre sua própria vida. Mas que dá vontade de lançar uma dessas de vez em quando pra gente abelhuda, ah dá!