quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Abraçada a uma árvore


Qual o aspecto mais difícil e desgastante da gravidez? O sono? Os enjoos? O peso? As dores nas costas? Nada disso. A parte mais cansativa da gravidez é o pré-natal...

Pré-natal significa que todo mês você tem pelo menos uma consulta e um pedido de exame para resolver. Consulta significa arranjar um horário na agenda que, idealmente, permita reunir eu, a médica e o marido, durante o horário de escola da filha mais velha, interferindo o mínimo possível no nosso horário de trabalho. Todo mês. Nos últimos meses, duas vezes por mês.

Mas não é nada comparado aos exames. Eu tenho o privilégio de um plano de saúde privado com uma cobertura bem razoável, e mesmo assim nunca tem horário... "Senhora, nesse sábado nós temos horário às 7 e 20 da manhã, na unidade do Tatuapé, pode ser?"... Ó, Jesus, eu moro no Butantã... E os termos "sábado" e "7 e 20 da manhã" não deveriam nunca coexistir em uma frase. E tem os exames de sangue com jejum, o nojento de glicemia, e eu já fiz xixi no copinho umas 60 vezes este ano...

Na gestação anterior, eu já havia ficado bastante de saco cheio do pré-natal. Fui acompanhada por uma médica bem convencional, com a qual acabei rompendo no final da gravidez, porque quis me empurrar a agenda de cesárea dela. Desta vez, consegui escolher uma médica com práticas mais próximas do que eu acredito ser importante, inserida no que se tem chamado de obstetrícia humanizada. Então tinha esperanças de um pré-natal mais leve, afinal esse pessoal não são aqueles médicos hippies que receitam chá e "deixam" a mulher parir abraçada a uma árvore? Pois acontece que o pré-natal da danada tem sido ainda mais meticuloso do que o primeiro...

Tudo isso pra dizer o seguinte: por que um atendimento tão "médico", tão "normal", tão dentro dos protocolos, que se baseia em parâmetros estabelecidos pela própria comunidade médica, que recorre aos mesmos exames de qualquer pré-natal etc., por que essa conduta causa tanta desconfiança nas pessoas em geral e manifestações tão ácidas de uma parte dos profissionais de saúde? Não é possível entender isso sem falar em autoritarismo e misoginia, simplesmente não faz sentido.

No fundo, o que torna a "obstetrícia humanizada" intolerável é o fato de que ela não submete a mulher. E isso, isso não pode.

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