Eu não sou uma pessoa
mística. Mas Teresa nasceu exatamente como eu imaginava: parecia que a menina
tinha mandado seu anjo da anunciação carregando retrato. Cabelos escuros, olhos
grandes e abertos. Muito abertos. E firmes. Nunca teve olhos de recém-nascido:
já veio encarando o mundo de frente. (Vai ver conhecia o poema.)
Também nasceu de unhas
compridas, a pele descamando. Uma enfermeira disse à minha mãe que era porque
passou do tempo. Ela não passou de nada. Nada lhe passa.
Ficou sentada, ninguém
sabe por quê. A despeito da yoga, a despeito da acupuntura, a despeito da tentativa
de versão cefálica. Foi até o meio e voltou. Ficou sentada. Decidiu que eu
teria de me haver com aquilo. (Não tinha eu também ficado sentada? Então...)
Não bastasse a posição
pélvica, ela soube reivindicar o tempo que lhe era de direito. Às 39 semanas,
rompi com a obstetra que me acompanhara e que decidiu, na terça-feira, que quinta
era um dia conveniente para a cesárea. Em duas semanas, falei com mais médicos do
que falara nos últimos dois anos. Às 41 semanas ela veio para o meu colo. Sem trabalho
de parto. Na cesárea não planejada, desplanejada, replanejada.
Parece que a menina que me
olha nos olhos e diz o que quer tem seus próprios planos.