Ando envolvida com um trabalho novo que tenho adorado, uma tradução para legendagem
de vídeo. É difícil, para mim, pois não tem
roteiro escrito, somente o áudio, e eu sempre fui “ruim de ouvido”, tanto para música
como para idiomas. De modo que agora toda vez que entro no carro para ir
sozinha a algum lugar, já ligo o áudio, na esperança de deixá-lo impregnar meus
ouvidos e conseguir fazer o trabalho direito. E está sendo uma experiência muito
interessante, pois a cada audição eu entendo algo que não havia entendido na
vez anterior, e fico toda feliz, feito criança que aprendeu coisa nova.
Só topei esse trabalho porque é um projeto querido, pois eu sabia
que ia ser muito desafiador. Mas está sendo uma roubada deliciosa.
***
Depois do jantar, enquanto ajeito as coisas, vou cantarolando.
“A tristeza é senhora
Desde que o samba é samba...”
A menina desenha. E ouve, percebo. Então aproveito o laptop aberto na cozinha e
coloco o sambinha no YouTube. Ela reage: “Ah, mas eu queria ouvir uma menina
cantando...” Ok, internet tem tudo.
Quando a voz feminina surge, seu rosto se ilumina.
***
Passei toda uma vida, inúmeras chuveiradas, incontáveis lavagens de louça e
sabe lá deus quantas rodinhas de samba e violão cantando, toda feliz:
“Solidão apavora
Tudo demorando em seu tamborim”
Choque: a voz feminina vem me esclarecer que nunca houve nenhum tamborim ali.
E eu que achava o tamborim tão poético...
***
Pelo menos, parece que os ouvidos andam atentos por aqui.
Pelo menos, parece que os ouvidos andam atentos por aqui.