Gosto de fazer yoga no parque, sob o dossel das árvores, rodeada pelas plantas que brilham e pulsam quase desordenadamente, alimentadas pela umidade do verão.
Inspiro profundamente o ar claro.
Gosto assim.
Tenho usado o horário de almoço do home
office para nadar na piscina do meu prédio. A América Latina, esse maná de
realismo fantástico onde a gente pode unir direitos trabalhistas a privilégios
de classe e seguir vivendo como se não precisasse da revolução.
Debaixo d’água, penso no livro que estou
escrevendo, sobre maternidade. E me pergunto por que alguém ainda estaria
escrevendo um livro sobre isso depois que A filha perdida já foi escrito e
filmado.
Fico ainda mais cética de mim mesma quando lembro
que desejo escrever um livro sobre maternidade com uma perspectiva positiva. Aparentemente
o mundo não precisa disso. Mas eu preciso. Desenhar para mim mesma uma porta,
um caminho, uma fagulha de prazer no meio do cotidiano massacrante.
Meu pescoço dói faz quatro meses. Do lado
esquerdo. O pé esquerdo também dói, faz mais tempo. Eu acho a coincidência intrigante,
mas os ortopedistas não dão a mínima para ela. Suponho que se eu comentasse que
as enxaquecas são sempre do lado direito, nem levantariam os olhos do raio-x.
Até porque eles são dois. Um só cuida do
pé, o outro não cuida de nada, mas registra a consulta na fatura do plano de
saúde. Tudo o que ele pode fazer por mim é aconselhar que eu trabalhe menos e
me encaminhar para o RPG, o que até me parece uma ideia honesta. A dor não é
exatamente incapacitante, mas é persistente, duradoura, me incomoda há meses. Filmes
e séries sobre cirurgiões já me haviam alertado para a possibilidade de que
ortopedistas se sintam um pouco entediados a respeito das dores moderadas das
editoras de meia idade.
Na piscina, outras mulheres e homens de
meia idade leem seus livros, tomam sol, escrevem no computador. Penso na peste
que nos permite cuidar da saúde: por causa da pandemia estamos aqui trabalhando
na piscina, tomando sol, vendo o céu e imaginando o horizonte. Penso que
piscina à tarde é coisa de universitário, como viver de pizza e miojo. Penso no
livro que estou lendo sobre uma mulher de meia idade que vive que nem
universitário, mas sem piscina à tarde. Penso nas mulheres mais espertas do que
eu que elaboram suas angústias escrevendo na terceira pessoa.
Nado para tirar o peso de sobre os meus
pés, para que a água me sustente e eu possa flutuar.
É também por que escrevo.