quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Kiwi e o mundo lá fora


Eu nunca gostei de kiwi. Me pergunto quem foi o primeiro ser humano a ter a ideia de abrir aquela bolinha peluda para ver se era bom de comer. E achou que era, a despeito da polpa aguada e das irritantes sementinhas crec-crec (também não gosto das do maracujá). Não, obrigada, posso ter minha parte em manga?  Daí que nunca houve kiwi na minha casa, nunca pedi no restaurante, nunca peguei no bufê de café da manhã do hotel. Pois um belo dia eu pergunto à minha filha o que ela quer comer, e ela responde "Ií". Hã, kiwi? Não tem kiwi, filha... E num outro dia, olhando a fruteira da casa de uma amiga, a menina me arregala os olhos com um sorriso de orelha a orelha e aponta: "Ií!". De onde veio isso, jizuis?!...

Antes que me venham com respostas místicas, já respondo: veio da escola. Uma das coisas legais da escola da Teresa é o lanche coletivo, cheio de frutas e comidinhas bacanas, que eles compartilham sentados à mesa. E lá ela conheceu a frutinha peluda que nunca passou pela minha porta. E foi por conta de um desses episódios do kiwi que me dei conta (da obviedade) de que a escola é um local para ampliar horizontes, encontrar coisas novas, conhecer aquilo que... não sou eu, ops!

Talvez este seja o aprendizado mais fundamental e mais difícil da condição de mãe (e pai, também, na sua medida, imagino): saber seu filho como outro, entender a presença nova que ele significa no mundo, e permitir que ele aprenda a se ligar a esse mundo com seus próprios recursos. O pediatra de uma amiga lhe disse, no momento em que se aproximava o fim do aleitamento exclusivo de seu bebê: está na hora de apresentar seu filho às cores do mundo.

Sempre que eu olho para os ombros de minha filha, desenhados pelo mesmo pincel que pintou seu pai, me lembro de que ela não é minha. Ela só existe porque minha história se entrelaça com outra história. Ela é parte de uma história nossa. E o kiwi veio me ensinar que a cada dia ela constrói mais um pedacinho de uma história sua.

2 comentários:

  1. Que texto lindo e profundo. Com a proximidade da introdução alimentar da Morena tenho pensado muito nessa coisa de sabores em como oferecer os que não me agradam e como será nossa relação depois em que o leite materno não for o único alimento. beijocas

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    1. Obrigada, querida. É um novo patamar na relação, a ser muito curtido, se conseguirmos nos desapegar um pouco das preocupações. Verás. Beijos!

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