Eu não tenho provas,
mas tenho convicção de que a máxima "criança precisa de rotina" é
falaciosa. Ou, pelo menos, ela precisa ser relativizada e tratada de uma
maneira mais complexa do que habitualmente se encontra nos guias e dicas sobre educar
crianças.
Acredito que as
crianças – assim como nós, aliás, em alguma medida – precisam de pontos de referência,
precisam de relações humanas quentes, precisam de tempo e liberdade para contemplar
o mundo e a si mesmas e se espantar com a imensidão. Precisam que a vida seja
recheada de sentido, e não ter sua existência tragada por esse vazio árido que
nos ronda.
E nada me convence de que
isso se traduz em dormir e acordar no mesmo horário, nem em fazer todas as
refeições com cinco cores no prato. É que isso é mais fácil de prescrever. Não
é a rotina que garante isso, é alguma coisa bem mais difícil de operacionalizar,
são as relações verdadeiras com o mundo, com os outros seres humanos, consigo mesma.
Talvez o que rotina faça seja garantir alguma segurança diante da ausência ou
da precariedade de todo o resto.
Claro que eu
posso estar completamente errada.