Eu não tenho muito
timing. E ainda não fui ver outro
filme. E ainda tem gente falando de Bacurau
ao meu redor. “Bacurau” que pra mim era um peixe mas descobri que é uma ave.
Quando eu
disse do meu choque pois sou a motoqueira, as pessoas riram simpáticas e
complacentes. Me conforta. Veja bem, eu sei que não sou a burguesia nacional
que pensa que é branca. Mas eu também não sei bem onde cavar. Aquele filme é
sobre a força que tem quem sabe onde cavar. E sobre a tragédia de quem acha que
não precisa.
Entre outras
coisas, pois não é cartilha. Eu acho. Mas a gente quer cartilha. Porque a gente
segue a cartilha. Resistência popular! A gente denuncia a cartilha. Incitação à
guerra civil! Mas não cava.
Oras.
A banalidade
do massacre. Não é 1960. Passamos historicamente do exército de reserva para a população
sobrante. Não é exploração, não é controle da rebelião social, é massa desumanizada
a ser gerida ou exterminada, o que der. Os livros de geografia falam que as
cidades asiáticas são formigueiros. Foto do alto. As cidades asiáticas. Manhattan
não.
E aquela
abertura cafona. Fica a voz da Gal Costa me perturbando até hoje e eu penso “Tão
lindo aquilo lá”. Os pontos luminosos lembram minhas viagens de infância quando
eu via as luzes das cidades ao longe. As luzes de um vilarejo transmutadas nas
luzes do mundo inteiro. É uma brincadeira com escalas linda.
Borrar a
distinção das escalas. Evocar a simultaneidade como aspecto essencial do
espaço-tempo do capital. Não tem cidade pequena, média e grande. Não tem país subdesenvolvido,
em desenvolvimento e desenvolvido. Não tem etapa rumo ao equilíbrio. O que tem
é uma lógica, uma, que produz o vilarejo e o mundo inteiro. Uma lógica que sustenta
e é sustentada pela existência simultânea da civilização e da barbárie.
População sobrante
não é gente. Quem nasce em Bacurau é o quê?
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