Exausta, deito com meu
livro novo, o da antropóloga que sobreviveu ao ataque do urso.
Deito na esperança de
adormecer lendo. Adormecer lendo é o refúgio que aprendi na infância. A bondade de um acordo tácito no qual eu finjo que não quero dormir e o livro finge que acredita,
me sustentando tranquila e amparada até o sono chegar.
Quando estou cansada, não
tenho forças para dormir. Quero demais esse adormecimento quase involuntário,
quase narcótico, que chega como se eu não o estivesse esperando, como se acaso
fosse.
Acaso não. Um ato de misericórdia
do universo que me concede chegar ao sono sem passar pela solidão que o
precede. Um sono sem escuro.
Não sei ensinar a
adormecer porque sou eu mesma incapaz de adormecer.
O livro me devora: sou
sua, não o contrário. Quem espera a compaixão do universo não deve se fiar em
livros bons e finos.
Eu queria ser capaz de
adormecer.
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