sábado, 2 de março de 2013

Descompasso


A vida é um descompasso. Ou vai ver que sou eu... Difícil pensar num deleite maior que a sensação pungente de que simplesmente estamos onde queríamos estar. Para mim ela remete à imagem – um clichê sem tamanho... – de uma espreguiçadeira na praia, uma caipirinha na mão e a pele morna de sol. A memória dessa sensação rara e fugaz me faz pensar em alguma coisa como estar flutuando... Imagino ser natural que isso só aconteça de maneira avassaladora umas poucas vezes na vida, e que na maioria do tempo essa satisfação seria mais como uma tranquilidade sorridente. Mas minha impressão é que passo uma parte grande demais da minha vida cumprindo tabela onde estou e querendo avançar pra outro canto...

No momento, o grande onde-estou-e-não-queria-ficar é meu mestrado, que tem sido fonte de desmesuradas angústias... Uma das coisas mais pertinentes que já fiz na vida foi cursar minha segunda faculdade. Foi um momento muito intenso de aprendizado, de contato com pessoas tão interessantes que me ensinaram a entender de maneiras novas e esclarecedoras o mundo e a mim mesma, de encontrar um lugar para mim. Eu estava exatamente onde queria. Por algum tempo... Hoje penso que entrar no mestrado foi, entre outras coisas, uma tentativa de estender esse momento.

Mas estava claro que ele tinha passado, os planos já eram outros: eu tinha um trabalho novo que me interessava, começava a pensar em ter filhos, aprender a plantar coisinhas na varanda (quem conhece minha varanda está rolando de rir agora) e cozinhar direito... O resultado é que o mestrado se arrasta, pois me faltam tempo e energia e sobretudo ímpeto para concluí-lo; meu trabalho segue precário; e minha casa e minha filha acabam negligenciadas por uma mulher que anda se sentindo tão atropelada por tudo que faz de cada coisa um fardo...

Colocar a vida em fase – esse é o desafio. “Sê inteiro”. Aproximar a ação e a vontade.

Mas a beleza da vida também está no irrequieto, não? Outro dia, na minha aula de yoga, minha filha levava seus tombinhos enquanto tentava aprender coisas monumentais como andar, subir no sofá, desligar o aparelho de som... Rindo, a professora ponderou: “É que a vontade vem primeiro. Ela vem antes de se desenvolverem os recursos, ela é o impulso.” A gente começa a andar meio torto até aprender, e nem bem está andando já quer correr...

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