domingo, 17 de março de 2013

Casa tomada


Desde quinta-feira fui tomada por um acachapante mau-humor e uma intransigente necessidade de introspecção. De ficar quieta e só. (Numa semana cuja programação incluía três festas de aniversário de pessoas muito queridas e uma visita aos sogros... As festas ficaram impossíveis). Como se eu precisasse de uma extrema concentração, de me apertar toda, muito, até conseguir botar pra fora o que precisa sair, enxergar o que está tão dentro de mim.

Curioso como me vem precisamente essa imagem, que remete de maneira tão óbvia ao parto. Não o meu, que as circunstâncias fizeram com que fosse uma cesárea... Mas o que li, ouvi e fantasiei; talvez o parto arquétipo.

Curiosa outra coisa, também. É clichê afirmar que ter um filho muda a sua vida e que a experiência, embora linda e gratificante, traz dificuldades. E elas são facilmente enumeradas por qualquer conhecido ou desconhecido (e como desconhecidos com filhos interagem!!): noites sem sono, troca de fraldas frequente e nas horas e locais mais inconvenientes, mudanças em seus horários, necessidade de abrir mão de certas diversões e situações sociais, conflitos com os filhos (birra, manha, a famosa falta de “limites”...), mudanças na vida sexual, dificuldade de conciliar trabalho e convivência familiar, falta de tempo, de ajuda, de dinheiro, e tantos vários etcéteras... Mas ninguém fala do ponto central (ou era eu que não estava prestando atenção?): a experiência da maternidade acarreta uma das mais poderosas reestruturações emocionais da nossa vida. Você achava que aquela identidade tão arduamente construída desde a adolescência até ali seus vinte e tantos estava enfim confortavelmente instalada na sua vida? Tenha um filho e comece tudo outra vez! Bom, pelo menos tem sido assim comigo...

Então é isso: a gente achava que era difícil parir o filho, mas o que dá trabalho mesmo é parir a mãe... Não propriamente a mãe, mas essa mulher nova que inclui a mãe, e no entanto não coincide com ela. Não coincide com a mãe que somos, porque somos algo mais que mãe. Nem muito menos coincide com a mãe abstrata – da mais pura Gaia até a executiva que orgulhosamente equilibra terninho e mamadeira –, esse fantasma que com a maior desfaçatez sussurra nossa patente imperfeição em nossos vulneráveis(?) ouvidos.

Nesse último ano, tão intenso, ainda não tinha experimentado uma necessidade de recolhimento tão visceral. As últimas semanas têm sido particularmente exaustivas: parece que cada ajuste implementado no cotidiano se torna cada vez mais rapidamente obsoleto ou ineficaz – tudo pesa, do preparo do almoço ao prazo do mestrado. Preciso ficar quieta.

O luminoso: se deixar dominar pelo recolhimento, agarrá-lo com a força da vida e obrigá-lo a cuspir o novo, o potente. Quem?


Nenhum comentário:

Postar um comentário