Eu sinto saudade de casa.
Gosto do seu cheiro e da densidade do ar, que nunca são
iguais em qualquer outra parte do mundo.
Gosto do meu chuveiro, quente e farto, e de saber já
de cor em que ponto a torneira deve ficar para a água sair temperada como eu
gosto. Sem testes.
Gosto da minha cama, especialmente agora que
arranjamos um colchão grande, onde cabem todos os meus braços, pernas e uma eventual
criança de um ano e meio metendo o cotovelinho nas minhas costelas.
Gosto da luz da minha casa. O sol não penetra meu apartamento
como eu gostaria. Mas tenho lâmpadas aconchegantes que aveludam as paredes e
arredondam os móveis. (Porque as pessoas enlouqueceram e colocam lâmpadas
eletrônicas brancas em todo lugar, deixando tudo com cara de hospital
ou açougue.)
Gosto da minha comida. Dos meus legumes bem
temperados, que não são acompanhamento nem dieta, e que minha filha se diverte
pegando com os dedinhos de pinça.
Gosto do cheiro do meu café, de apertar o botão da
cafeteira e esperar o barulhinho da água borbulhando e dizendo que o dia
começou. E de tomá-lo no balcão da cozinha, dividindo com o marido uma fatia de pão quente de torradeira e manteiga feita em casa.
Gosto de forrar o tapete da sala com edredons e
almofadas, depois do jantar, e ficar brincando na meia-luz com minha filha, até
que ela se aconchegue a uma almofadinha e durma. É, minha filha de um ano e
meio adormece quase todas as noites no chão da sala, com a TV ligada. Shame on
me...
Enfim posso sentir meu corpo relaxar e
minha cabeça voltar ao lugar. E quem sabe mandamos essa gripe de férias pro inferno.