Fitou o espelho e admirou por um instante seu porte de porcelana. A linha da cabeça, sempre.
O conhecido movimento para alcançar a fita da sapatilha, e de súbito uma trajetória ligeiramente inusual da ponta de gesso libera um estalido que rasga a sala. A mão que passava já à fita termina de soltá-la mecanicamente.
A bailarina observa o pé liberto e olha estupefata os cacos que a refletem. Como fizera aquilo?!
Abandonando a sapatilha fatídica, levanta-se e desce correndo as escadas, embrenha-se pela rua. Os cabelos parecem saber, e soltam-se dos grampos sempre inescapáveis.
Surpreendentemente ofegante, bailarina que é, desaba sobre um banco. A planta do pé descalço acaricia a grama que o pinica.
Ao rapaz que passa pede um cigarro. Gostaria de levar em troca uma sapatilha de ponta? Ele sorri, segura-a pela fita e guarda ali o meio maço de cigarros amassado, enquanto se afasta.
Só, ela olha a praça e sente com atenção o vento gelado que lhe varre as bochechas. É bom.
Lindo, Carol! É seu texto?
ResponderExcluirObrigada, querida! É meu, sim...
ResponderExcluirBeijo!